Setembro: Mês Internacional da Prevenção do Suicídio
Você sabe o que Robbin Williams, Kurt Cobain, Marilyn Monroe, Santos Dumont, Vincent Van Gogh, Walmor Chagas e Leila Lopes têm em comum? Além de serem artistas famosos, cometeram suicídio.
Atualmente, há uma tragédia silenciosa que está se desenvolvendo em nossa sociedade e diz respeito à vida de milhares de pessoas afetadas todos os anos pelo suicídio. Setembro é o Mês Internacional de Conscientização sobre a Prevenção do Suicídio. É um momento para compartilhar histórias de forma a lançar luz sobre esse tema tão estigmatizado pela sociedade.
Nos últimos 15 anos, os pesquisadores nos deram estatísticas cada vez mais alarmantes sobre um aumento agudo e constante da doença mental que agora está atingindo proporções enormes. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos, o que representa uma pessoa a cada 40 segundos. Porém, muitos outros tentam o suicídio e nem chegam às estatísticas. O suicídio ocorre durante toda a vida e é a segunda principal causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos no mundo. 79% dos suicídios ocorreram em países de baixa e média renda em 2016 e foi responsável por 1,4% de todas as mortes no mundo, tornando-se a 18ª causa de morte. Tornou-se um desafio de saúde mental pública internacional, resultando na necessidade de intervenções para abordá-lo no aspecto individual, familiar e comunitário. Como é um tema complexo, os esforços de prevenção, diz a OMS, necessitam de coordenação e colaboração de diversos setores da sociedade, incluindo saúde, educação, justiça, defesa, mídia e trabalho.
Segundo o artigo “Suicídio na América Latina: um crescente desafio de saúde pública”, publicado na Revista da Faculdade de Ciências Médicas da Argentina em 2016, muitos países da América Latina tomaram medidas para enfrentar problemas no sistema de saúde mental, tais como dificuldades de escassez financeira, de recursos humanos, obstáculos sociais, políticos e culturais. No entanto, tiveram resultados insatisfatórios. A alta desigualdade, a pobreza e o analfabetismo ajudaram negativamente na falta de cuidados de saúde adequados. A relação entre as tentativas de suicídio e os serviços de saúde representa, portanto, um tópico de estudo potencialmente importante.
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, o suicídio aumentou gradativamente entre 2000 e 2016: foi de 6.780 para 11.736, uma alta de 73% nesse período. As maiores taxas de crescimento foram registradas entre jovens e idosos. Em 2015, o suicídio foi a quarta causa de morte nessa mesma faixa etária, ficando atrás de violência e acidente de trânsito. A incidência de suicídio entre a população brasileira passou de 4,1 em 100 mil habitantes no ano 2000 para 5,5 em 100 mil habitantes em 2016.
O assunto que já foi um tabu muito maior, ainda enfrenta grandes dificuldades na identificação de sinais ou sintomas e na busca pela ajuda, justamente pelos preconceitos sociais e pela falta de informação. Os recentes suicídios de alunos estudantes de escolas particulares e públicas em São Paulo trouxeram à tona a necessidade de se discutir urgentemente o sofrimento que os adolescentes estão passando e as possíveis saídas para um desespero sentido como insuportável.
Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, o suicídio é um problema de saúde pública, pois existe em todas as sociedades, causa um grande impacto na vida das pessoas, dos familiares e amigos e as mortes são passíveis de intervenção e podem ser evitadas, na maioria das vezes. Normalmente, os casos que não são passíveis de intervenção são aqueles em que as pessoas não manifestaram a ideia do suicídio ou não tiveram oportunidades de se manifestar.
Segundo a cartilha Suicídio, Informando para Viver, divulgada esse ano pela Associação de Psiquiatria, 97% dos casos pode ser relacionado a alguma doença psiquiátrica, como distúrbios de humor ou transtornos por uso de substâncias psicoativas.
“O suicídio pode ser definido como um ato deliberado executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção seja a morte, de forma consciente e intencional, mesmo que ambivalente, usando um meio que ele acredita ser letal. Também fazem parte do que habitualmente chamamos de comportamento suicida: os pensamentos, os planos e a tentativa de suicídio” (p. 6).
O suicídio é um processo final de um sofrimento existencial, é o desespero extremo de uma pessoa que não conseguiu dar vazão a esse sofrimento. O desenvolvimento de uma escuta desses pedidos de ajuda no âmbito da família e da sociedade podem ajudar a contribuir para que as pessoas possam ser encaminhadas para tratamentos, ou seja, ouvir e oferecer ajuda pode salvar vidas.
Ainda segundo a Associação, é necessário que toda a sociedade se comprometa e apoie as iniciativas que podem prevenir o suicídio:
- Analisar as possíveis causas que podem levar uma pessoa a cometer o suicídio e realizar intervenção direta. Por exemplo, já é evidente os relatos de jovens que sofrem bulliyng nas escolas ou comunidade e cyberbulling nas redes sociais. Dependendo da situação emocional da pessoa, esse sofrimento pode potencializar uma depressão, a baixa autoestima etc, podendo culminar em uma situação de suicídio. Esse é um tema discutido no curso Bullying: Prevenção, Detecção e Ação. Veja mais no site https://www.scolartic.com/pt/web/bullying-prevencao-deteccao-e-acao
- Incentivo a espaços de promoção de saúde na comunidade, como a realização de grupos de autoajuda nas igrejas e escolas, associações e ONGs.
- Controle/regulação do acesso aos métodos mais utilizados, como: carbamato (chumbinho); pesticidas; raticidas e outros; e restrição às armas de fogo.
- Construções inteligentes e planejamento da cidade com medidas de segurança.
-Incremento do uso estratégico da mídia para campanhas preventivas e maior regulação da veiculação em casos de tentativas.
- Evitar as descrições pormenorizadas do método empregado, bem como fatos e cenas chocantes.
-Campanhas nas escolas que problematizem o assunto, de forma a desconstruir tabus e facilitar a prevenção.
E lembre-se: falar pode salvar. Vamos apoiar essa causa!
Carolina Mirabeli é Psicóloga (CRP 06/69647) Clínica Integrativa Transpessoal, Consultora de Carreiras, Hipnoterapeuta, Consteladora Sistêmica, Pesquisadora e escritora. É mestre em Psicologia Social, pós- graduada em Recursos Humanos e Membro da Associação Luso-brasileira de Transpessoal, da Associação Transpersonal Ibero-americana, da Rede Latino-americana de Profissionais de Orientação Profissional e do Programa de Saúde, Espiritualidade e Religiosidade do Instituto de Psiquiatria da FMUSP.
Trabalha e pesquisa sobre depressão, ansiedade e outros distúrbios mentais, assim como sobre técnicas que ajudam a promover o bem-estar integral.
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